Dias de chuva pedem bolo da avó Fernanda e chá.
O Unicórnio
Minha avó Fernanda, senhora que mui amo e prezo, não nutria especial gosto pela cozinha, nem tampouco de viver exclusivamente para as lides domésticas. Era mulher de trabalhar duramente no campo, de arregaçar mangas e fazer o que qualquer homem fazia. Mulher do campo, rija, cheia de personalidade.
Todos os dias me lembro dela.
- "Ah cachopa que não ganhas juízo", dizia-me. Depois dava-me um beijo e eu ralhava porque não queria beijos. Tontices.
Minha avó Fernanda não tinha especial gosto pela cozinha, mas fazia um bolo de laranja de bradar aos ceús por mais. Sei que o mesmo não tinha receita fixa, não tinha doses, nem medidas. Farinha, açúcar, fermento, ovos, sumo, casca de laranja a olho e... voilá. Um delicioso bolo de laranja. Tenho saudades desse bolo. Dava tudo por um fatia desse bolo.
Minha irmã é a única da família que consegue reproduzi-lo quase fielmente. Hoje lembrei-me dele. Não que precise de mais açúcar neste corpo, pelo contrário, mas há vontades que não se negam. Fi-lo. Claro que nao é nem parente afastado do bolo de laranja da avó Fernanda, mas sempre deu para usar pela primeira vez a minha nova base para bolos.
Pus a mesa como se esperasse alguém para lanchar.