Imagem: alexhallatt.com/illos/illos.htm
Durante o banho, hora mágica em que me perco em pensamentos, atos e omissões, é a altura do dia em que tenho tempo de pensar na vidinha com mais calma. Há pouco, enquanto a máscara do Panténe fazia efeito e eu passava com a gillette no arvoredo de três semanas, lembrei-me de um episódio que se passou tinha o Francisco um mês e estávamos em casa dos meus pais.
O Francisco na altura e até aos três meses, chorava 12 horas por dia, deixando qualquer um com vontade de se atirar escada abaixo ou de morder os pulsos até ficar exangue. Gritava sem parar e fazíamos de tudo para que aquele choro agudo e penetrante amainasse; cantávamos, bailávamos, mudávamos a fralda, víamos cada milímetro do seu corpinho, eu sei lá..., o meu pai até as músicas da igreja lhe cantava, mas nada resultava. Um mês mais tarde viemos a saber, como já contei noutro post, que o pastel de tentúgal sofria de refluxo o lhe provocava dores no esófago e daí o choro persistente.
Eu, que era pessoa ansiosa, stressada, nervosa, eléctrica, bruta e intratável no dia a dia, nestas situações que requeriam calma, ficava dez vezes pior e quanto mais o Francisco chorava, mais eu chorava, apesar das infrutíferas tentativas do mêrapaz para me acalmar. O moço lá vinha com palavras suaves e apaixonadas, acompanhadas de frases «tem calma ´nha dama que isto passa» e eu só não lhe dava bordoadas na tromba porque não lhe chegava (tem 1,95m de pessoa).
Nessa noite, o meu filho gritava há mais de três horas e eu com ele ao colo, acompanhando-o no berreiro, pois não aguentava vê-lo naquele sofrimento. Coloquei-o mais uma vez na mama (já o fizera há menos de meia hora), ele chupou e rejeitou. Tentei de novo e nada! Chorava mais ainda. Estranhei porque sempre fora um mamão de primeira e rejeitar-me a mama, era porque algo de muito grave se estava a passar!
«Não tenho leite» - pensei. Fui buscar a bomba manual, montei aquela porra, dei à manivela e nada. Nada saiu, nem uma pinga. Estava tão taralhoca que pensei que a bomba pudesse estar avariada. Liguei à minha amiga Élia Cassandra e pedi que me emprestasse a sua. O engraçado (agora acho graça, na altura nem um pouco), tudo isto se passava comigo aos berros, com as mamas de fora, o marido a acalmar-me, o meu pai a coçar a cabeça de um lado para o outro sem saber o que fazer e a minha mãe entretanto, conseguira acalmar o Francisco.
Chegara a bomba da Élia Cassandra. Coloquei a maquineta nas mamas. Nada. Nem pinga. Era oficial; o leite tinha-se escafedido. Comecei num pranto. Chorei, ralhei, bradei aos céus, e no meio da parvoíce toda, apareceu a minha mãe de semblante sério e dedo em riste.
- «Unicórnio de Jesus, ou te acalmas ou levas dois pares de estalos. O leite não desaparece assim, estás tão nervosa que o bebé nem quer mamar e nem consegues tirar leite. Deita-te, dorme que quando acordares, verás que tudo estará dentro da normalidade».
Foi o que fiz. O Francisco entretanto adormecera no colo da minha mãe e resolvi acalmar-e deitar-me. Cinco horas depois, o Francisco acorda. Tiro-o do berço, meto-o na mama e a coisa-mais-rica-e-linda-de-sua-mãe mamou como se nada tivesse passado.
Conclusão; o nosso estado emocional é que manda nisto tudo da maternidade. No leite, no comportamento do bebé e no restante. Por isso, tento a cada dia, tornar-me mais calma para ser uma melhor mãe e por estranho que pareça aos que me conhecem, estou a conseguir. Agora só sorrio e aceno, sorrio e aceno.