Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Unicórnio

O dia a dia de um Unicórnio. Suas inspirações, aventuras e desaires.

O dia a dia de um Unicórnio. Suas inspirações, aventuras e desaires.

O Unicórnio

11
Out16

As aldeias têm sempre gente muito estranha...


O Unicórnio

Há muitos e muitos anos atrás, chegou à aldeia uma companhia de circo itinerante. Montaram a barraca na campina e anunciaram pelas ruas,  “o maior espectáculo do mundo”.

Ora, não me indaguem sobre a veracidade da história porque a mesma aconteceu há mais de cinco décadas e o que sei e partilharei convosco, foi-me descrito por terceiros. Portanto considero-me isenta de responsabilidades, caso a mesma não corresponda de todo,  à verdade. 

Esta companhia - tal como todas as companhias de circo que percorriam as aldeias - era constituída por uma família de gente peculiar.  A matriarca, mulher de barba e corpo rijo, desconfiada e sinistra, ao ser afrontada por um azinhaguense que por ela passou e que não conseguiu ter tento na língua, deu logo a entender que não era mulher de se ficar. O pobre do homem, nunca tinha visto uma mulher com barba e precipitou-se a comentar  em voz alta para quem quis ouvir:

- “Mulher de barba era o que cá fazia falta cá na Azinhaga! Parece o cú de uma mula!” – gritou.

Ora, a brutamontes não teve meias medidas: desmontou-se do camelo que com sacrifício a carregava, e espetou três galhetas no homem, deixando-o com o nariz e um dente partido.

Tal como referi, a companhia de circo era formada por uma única família. A matriarca, esta grande bruta, era casada com um anão de cabelos até aos pés, mestre de cerimónias, malabarista e trapezista.

A avó da família, mãe da bruta, era feiticeira. Marreca e cega, dava consultas de tarot de porta em porta durante o dia, e nas noites de espectáculo, tocava trombone e, pasmem-se, executava números de contorcionismo.

Havia uma filha, a domadora de leões, a única da família sem problemas físicos e mentais. Diz, quem me contou a história, que a cachopa era linda como a Nossa Senhora: de cabelo comprido, loiro como o trigo, de profundos e vivaços olhos azuis, mas de substância e miolo esfaimado, tal belzebu em época de cio, pois inflamava tudo o que tivesse pila.

Dispensável será dizer que na aldeia não se falava noutra coisa e que todos esperavam pela primeira noite de circo. Uns, porque nunca tinham ido ao circo, outros, porque nunca tinham visto um anão e uma mulher barbuda, e a maioria, porque a rapariga era tão bonita que queriam vê-la de perto.

 

Deu-se a estreia e tudo correu tranquilamente. Cada artista cumpriu o seu papel, sem lapsos ou deslizes e o povo foi para casa, festivo e boquiaberto. Os homens, deitaram a cabeçorra na almofada e sonharam com a cachopa, as mulheres, amolaram as facas de cozinha, tal os ciúmes que sentiam dos maridos.

Por norma, estas companhias itinerantes estabeleciam-se nas povoações durante alguns meses, e lá ficavam até não haver público para o espectáculo. Ora, como já presumiram, a protagonista desta história é a domadora que tinha como rotina, passear-se durante o dia pela aldeia, montada num leão, submisso e obediente como um gato.

Os homens, sentados na praça, depois de um dia extenuante no campo, valiam-se para por a conversa em dia, mirando de soslaio a moça que se passeava pela aldeia a cavalo num felino.  

Um desses homens era o Alfredo. Rapaz bronzeado, bem apessoado, de traços trigueiros e encantador, mas que tinha tanto de encanto  como de emproado. Altivo, mulherengo, desordeiro, era um autêntico “cafajeste”. Secretamente acumulava o anseio de abeirar-se da rapariga e de lhe espetar um beijo nas trombas, pois seria mais uma para a sua interminável lista de conquistas.

 

Numa tarde em que o sol queimava à parva, a cachopa foi com o felino até ao rio Almonda para se banharem. A passo lento, atravessaram a aldeia até ao curso de água. À espreita, estava Alfredo.

Ao chegarem, moça e leão beberam água e de repente a rapariga sentiu que a apertavam na cintura. Era Alfredo, esse grande cabrão! Agarrou-a à força, indiferente ao gritos desesperados da rapariga clamando ajuda.

Não julgue o homem, que leão que se deixa acavalar, afagar e passear como se fosse um cão, gato ou porco, esquece o seu lado bravio. Não, não esquece, só o abafa. De uma só patada, cortou a garganta ao Alfredo, estando já morto quando caiu ao chão.

A rapariga e o seu animal fugiram, deixando o falecido a esvair-se nas marachas do rio, rodeado de populares que ouviram os gritos da rapariga. Ninguém a perseguiu procurando justiça e o circo abalou da aldeia. Naquele lugar, passados tantos anos, ainda florescem  dentes-de-leão da cor do sangue e se acharem porventura que é não passa de uma simples coincidência, estão enganados.

Ainda hoje lá passei e colhi um par que embelezam as jarras cá de casa.

lead_960.jpg

Fotografia da bruta, cedida pela pessoa que me contou a história.

28
Set16

Vou casar.


O Unicórnio

No dia em que casei, disse ao mêrapaz que quando fizéssemos dez anos de casados, recasaríamos. Eu, cachopa que nunca quis casar, casei uma vez e casar-me-ia todos os dias, porque adorei casar. Ficou combinado que quando comemorássemos uma década de vida em comum, convidaríamos família e amigos chegados para uma festa singela.

Ora, aqui está a minha definição de festa singela.  

 

O convite

6b56a032b472c0c0ecc212cfbea3d7cd.jpg

 Já lá vai o tempo de mandar arroz aos noivos, o que está a dar é mandar alpista.

54e30296f453e8325345e34c871dc059.jpg

 Nem vou dizer o quão adoro este vestido. O que vale, é que ainda tenho dois anos para ficar em forma (Deus me ouça, Deus me ouça). Adoro o cabelo num apanhado despenteado. 

100adbab902bef1a422452fbeda05a05.jpg

 Os canitos cá de casa. 

370e7c79a374efad2490856231b569fc.jpg

 Ao ar livre. Com lâmpadas penduradas numa árvore e uma mesa rústica. 

904c78cda9b126abd5bb8d07fb287e0a.jpg

 

d53293ce0e2fa23d948b241bb8cca4b2.jpg

 Não sou moça de flores, mas gosto de suculentas, pois são resistentes e não morrem à primeira. 

e4cd5c19fe96aaa3296fc273c0f82ee5.jpg

 

 

f8dd6f736beeeb86026af7398f4eb3e4.jpg

 

fcf719ebebb5c7759a51242171f82b59.jpg

 Fotos: Pinterest

28
Set16

Receita de granola para quem não gosta de granola.


O Unicórnio

granola1.jpg

 Foto:Pinterest

Ando há muito para encontrar a granola perfeita. Reconheço que experimentei algumas de supermercado e com toda a verdade vos digo: sabem a alpista. Sim, já provei alpista. Todos nós temos um passado, ok?

Nunca fui moça receptiva a esta nova onda de comida saudável, que se afigura insípida e com pouca substância.  Gosto das couves com feijão da mãe, do arroz com feijão e entrecosto do pai e restantes pratos leves. Mas, como fui mãe há um ano e ganhei muito peso após o parto, devido à amamentação que me tornou uma loba bruta por comida com mais dez quilos, lentamente tenho andado numa fase de mudanças de hábitos alimentares.

Decidi começar pelo pequeno almoço. Adoro ver fotos no Insta, de bloggers boho-chics que comem iogurtes gregos com granola em potes de vidro. Nas fotos tudo me parece lindamente, quando provo, parece que estou a comer o rebordo de uma tupperware de 1970.

Uma amiga, a Sofia Graça,  perita nestas coisas de alimentação biológica/saudável, cedeu-me a sua receita milenar de granola caseira que convosco partilho. Parece-me sugestiva. Agora, é encontrar todos os ingredientes... tarefa que me parece hercúlea. Onde raio se compra óleo de côco?

Quando conseguir “montar” toda receita, colocarei aqui as fases do processo, bem como a avaliação final.

 

Granola

Ingredientes: • 400 gr de aveia (em flocos); • Meia chávena de mel; • Uma colher de sobremesa de óleo de côco; • Meia chávena de côco ralado (eu ralo o meu próprio côco); • Meia chávena de frutos secos (à escolha); • Meia chávena de sementes (uso sésamo, girassol e abóbora); • Pode-se usar pepitas de chocolate, bagas de Goji, passas, damascos secos (eu uso Goji).

 

Como fazer?

  1. Coloque os flocos numa taça grande; 2. Aqueça um pouco o mel e o óleo para ficarem em estado líquido (aquecer muito pouco); 3. Misture o mel e óleo com os flocos; 4. Coloque num tabuleiro e leve ao forno a cerca de 120º até ficarem levemente dourados (é precisa muita atenção para que não queimem); 5. Mexa os flocos, de 5 em 5 minutos, para não queimar; 6. Retire do forno e adicione os restantes ingredientes; 7. Deixar arrefecer e guardar num recipiente de vidro com tampa.
23
Set16

Quando andava no colégio, olhava para as irmãs e imaginava que roupa interior usariam


O Unicórnio

Preâmbulo: Esta aventura aconteceu. Passou-se no colégio religioso que frequentei durante alguns anos, e entre tantas outras peripécias que tenho para contar, ainda esboço um sorriso quando relembro este dia. Não tenho grandes saudades daquele estabelecimento de ensino, mas foi nele que vivi as situações mais insólitas e cómicas de sempre. Aqui vai a primeira.

 

Quando olhava para as irmãs imaginava que roupa interior usariam. A bata de fazenda preta até aos pés era demasiado austera e sempre admiti a hipótese, que talvez pudessem usar lingerie do demo por baixo de tanta piedade.  Seria de renda, com atilhos, berloques e de cores vibrantes, ou vestiam cuecas até ao pescoço cor de pele e soutien até aos joelhos a segurar as mamas? Não sabia, mas estava disposta a descobrir.  

E era nisto que coagitava quando uma freira ralhava comigo ou me chamava à atenção.  Para me abstrair da descompostura, olhava-as fingindo que as ouvia, imaginando o que vestiriam debaixo daquelas sacas de batatas cortadas a direito. Claro que não aguentava o riso e para além de uma descompostura, levava duas. 

 

No recreio, durante uma manhã senti-me mal. Esbardalhei-me por duas vezes de tão zonza, (sempre fui propensa a esta mariquice de ter tensão baixa), e as irmãzinhas, preocupadas comigo, conversaram entre si, decidindo colocar-me a descansar nos seus aposentos. Bingooooooo!!! Estava ali a oportunidade de uma vida, caraças!

Obviamente que pintei o quadro bem pior do que era, fiz-me de muito combalida e doentinha e fui levada a braços pelo canhão da irmã Conceição.

A irmã Conceição, mulher de compleição física bastante larga e rude, possuia a força de um toiro e a teimosia de uma mula. Tinha uma bigodaça negra bem farfalhuda que lhe emoldurava o rosto e óculos fundo de garrafa. Era bruta que nem uma égua, antipática que só ela, mas era das minhas favoritas. Lá no fundo, bem no fundinho, era boa rapariga.

-“Vais para este quarto e descansas”, disse-me. O quarto, pequeno e com cheiro a restaurador de móveis estava na penumbra. Só uma vela em cima de uma secretária apinhada de papéis, iluminava um pouco as paredes e a cama. Deitei-me. Aproveitei o facto de estar a faltar a uma aula (coisa que NUNCA acontecia, excepto por motivos de doença) e deixei-me estar. Coitadinha de mim, frágil e combalida, mas aquele era o momento para descobrir que roupa interior vestiam aquelas irmãs. Quantas oportunidades teria? Nenhuma.

Porra. Não me conseguia mexer. Faltava-me a coragem de ir cuscar, de revolver o que não era meu e por grande que fosse a minha curiosidade, superiores eram os valores que me tinham incutido. Não fiz nada. Fechei os olhos e adormeci.

- “Filha, acorda que já é hora de almoço”. Lá estava ela, a irmã Conceição, a olhar-me de pé. Tinha aberto as janelas e a luz entrava no quarto de rompante. Sentia-me bem melhor e o “chilique” tinha passado à história. Olhei em volta.

Ó diabo!!! Que é isto?!

Uhlálá!

Uma corda fininha, esticada de uma ponta a outra do quarto, tinha nela penduradas uma série de roupa interior (julgo que o pudor da religião não permitia que estendessem roupa no exterior). Não precisei de ir calhandrar, de mexer em coisas alheias, estava ali o Santo Graal, bem visível.

Olhei, sorri, baixei a cabecinha enquanto um esgar se soltou dos meus lábios. Fiquei com as dúvidas esclarecidas e tenho a certeza que Deus não me castigou pelo meu pequeno acto de rebeldia. Tenho a certeza que hoje quando me rio, também ele se ri.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ah! Nada de especial. Era tudo cor de pele até à cintura e soutiens que mais pareciam paraquedas.

17
Set16

Quando uma janela velha retorna à vida


O Unicórnio

Pegar numa peça antiga e dar-lhe vida é algo recorrente cá em casa. Meu pai, possui um enorme talento para restauro de mobiliário antigo e decoração, e eu tento ultimamente seguir-lhe os passos. Há muito que gostaria de aproveitar janelas e portas antigas que temos guardadas e que outrora fizeram parte da nossa história familiar. Ambos pusemos mãos à obra. Idealizei a peça, Zé Mota deu-lhe vida.

Quis algo que pudesse usar como iluminária/suporte de flores para uma parede interior que tenho no apartamento e que servisse ao mesmo tempo de bengaleiro. Não pretendia uma peça nova, fabricada em massa, queria algo antigo, com história e durável.

Todas as peças em ferro têm dezenas de anos. Está pronto. Não sou de falsas modéstias e é de peito inchado que vos digo que ficou lindo. Já temos o próximo projecto em mãos e estou ansiosa por começar. Desta vez, uma porta antiga maravilhosa que está a pedir que a ressuscitem.

 

6.JPG

 Só falta o suporte para colocar na parede que terá de ser bem resistente dado que a madeira é maciça e tem um peso bastante considerável. 

2.JPG

 Os frascos são de iogurte. O ferro, foi trabalhado pelo meu pai para segurar na perfeição o boião.

5.JPG

Os apliques em ferro, já fizeram parte de mobiliário antigo. 

 

 

DSC_0010.JPG

 Optámos por lixar a janela, que no passado, já tinha sido pintada várias vezes. Para dar um ar mais rústico, fomos à procura da cor de raíz. 

15
Set16

O primeiro dia de aulas foi bom? Fico contente por vós. Muito.


O Unicórnio

Vestia uma blusa azul, calças de ganga e All Star. Não levava mochila, só um caderno A4 de capa preta e uma bic laranja. Era o meu primeiro dia de aulas numa escola pública e sentia-me como se fosse fazer uma colonoscopia.

Depois de alguns anos no Colégio de Santa Maria - tradicional, rigído e com algumas meninas  emproadas com quem não me idenfitificava -  finalmente ( e graças a Deus e a todos os seus Santos), iria para o ensino público. Sentia-me enfartada de tanta freira, tanta missa, de tanta comida sem sal, da bata de fazenda em pleno verão, de tantos preceitos e mariquices, e principalmente, de tanto mulherio.

Os nervos e a ansiedade foram sempre o meu inimigo número um. Escusado será dizer que a madrugada que antecedeu o primeiro dia de aulas na Escola Secundária do Entroncamento, foi passada em claro, a rezar Avé Marias e Pai Nossos, mendigando-Lhe que me ajudasse a ser aceite naquele liceu.  Tinha medo de não me integrar, não sabia nada de moda, de maquilhagem, de cabelos, de música e muito menos de rapazes. Nunca tinha tido colegas de carteira com pila, só patarecas a rodos sempre aos guinchos e aos pulos feitas parvas, e tudo seria novo naquela escola do capeta (no  bom sentido).

À entrada ficava a polivalente. Um recinto amplo com um pequeno palco e uma escadaria que servia de ninho aos adolescentes mais populares. Ao lado, o refeitório, e num corredor paralelo afixados nas paredes com pioneses coloridos, os horários de todas as turmas.

Um dos auxiliares, o Sr. Neves, que andava sempre com um sapato esfrangalhado e com os cantos da boca a espumejar, recebia os veteranos e os caloiros com uma hostilidade encenada, pois era a sua tática de manter o respeitinho e a distância daqueles adolescentes borbulhentos com as hormonas aos saltos.

Entrei na polivalente.  Respirei fundo e palavra, que o meu último suspiro foi ouvido em eco! Toda a minha jovem carcaça exalava medo e aqueles predadores de olfato apurado, deram logo por mim. Senti-me caça, um Bambi esquecido na floresta à procura de sua mãe, um Winnie de Poo desprotegido e abandonado no escuro, com uma feridinha na perna. Ninguém sabia que tinha vindo de uma escola particular, excepto duas raparigas ex-alunas do colégio que tinham saído anos antes de mim  e com medo que as denunciasse, (dado que agora eram tidas com as mazonas da escola), fizeram-me a vida negra nos primeiros meses. Perseguiam-me, insultavam-me e ameaçavam-me com tau tau, caso dissesse a alguém que anos atrás, tinham sido meninas de coro. O karma é lixado e a vingança veio mais tarde. Adiante.

 

Os alunos dividiam-se por grupos. Os betos, os metaleiros, os assim-assim, os cromos e o grupo dos que já tinham bigode, borbulhas com pus branco no queixo, óculos fundo de garrafa, dentes tortos, calças de tyrilene compradas no mercado e sapatilhas “Naike”. Não me inseri em nenhum dos grupos, apesar de ter características de todos.

 

Betos: Os rapazes vestiam pólo da Burberrys comprado no mercado, calça de ganga Levis, sapato vela. Elas, pólo da Benetton, argolas e fio de prata, cabelo aloirado. Tomavam banho todos os dias, forravam os dossiers com papel autocolante e tinham um estojo todo bonitinho comprado numa papelaria pela avó ou pela mãe. Chegavam à escola de carro e davam um beijinho de despedida aos papás. Bons alunos, eram os que subornavam os professores com elogios, sorrisos e enalteciam as profissões dos papás. Gostavam de ganzas.

 

Metaleiros: Mesmo com 40ºC vestiam camisola e calça preta preta apertada com alfinetes na lateral, tinham cabelos compridos lavados uma vez por semana e gostavam de abanar a cabeça ao som de gajos que regurgitavam e saltavam em cima do palco, enquanto faziam como que num ritual, um gesto com dois dedos, um sinal de reverência ao capeta, também conhecido por Ozzy Osbourne. Adoravam guitarras e eram exímios a tocar guitarra invisível. Diziam que adoravam o diabo, mas cagavam-se de medo quando faltava a luz em casa. Gostavam de snifar cola UHU e fumavam ganzas.

 

Assim-assim: eram tão tímidos, reservados e assustados, que há quem afirme que existam somente dois ou três exemplares desta espécie. Não há avistamento suficiente desta raça para que se possa fazer uma descrição sólida e verossímil.

 

Cromos: nunca faltavam às aulas, mas denunciavam os que faltavam. Eram bons alunos, mas egoístas e sovinas. Sentavam-se na primeira fila e no início do ano letivo já tinham lido a matéria a estudar. A maioria ambicionava entrar para Direito, História,  Ciências Farmacêuticas ou Medicina. A maioria toma antidepressivos e não consegue arranjar emprego por excesso de habilitações.

 

Entrei na polivalente, devagar, a medo. Ao longe, vi uma moça conhecida que vivia na  minha terra e para ela me dirigi aos saltinhos, feliz e contente por ver uma cara conhecida.

Era o meu primeiro dia de aulas. Era o meu primeiro dia de aulas naquela escola apinhada de rapazes e raparigas, críticos e maus. Pisei um atacador. Caí. No meio da polivalente. De joelhos. No meu primeiro dia de aulas.

27
Jul16

Vidinha no campo é assim.


O Unicórnio

Acabei de ser picada por uma p**** de uma abelha! Gritei quintal afora que nem uma desalmada e até a vizinha veio à janela.

Vou contar-vos uma história, sobre a penúltima vez que fui picada por uma p**** de uma abelha e que me serviu de lição para o seguinte mantra:

numa aldeia pequena, faça o que fizeres, seja verdade ou seja mentira, tudo se sabe num ápice.

Era uma vez uma rapariga de dezassete anos que todos os dias apanhava o comboio para ir e vir da escola. O trajecto entre a aldeia onde morava e a estação da CP, eram cerca de dois quilómetros e essa cachopa fazia o trajecto ora de bicicleta, ora de mota (uma pequena acelera que ainda hoje existe).
Num dia como o de hoje, quente c´mo um corno, a cachopa sai da escola ao final da tarde, apanha o comboio, sai no apeadeiro em Mato de Miranda e agarra na mota para vir para casa.
Quando entra na terrinha, a cavalo na mota, de capacete cheio de estilo, sente uma ferroada ENORME nas costas. Que fez a cachopa?! Parou a mota, mandou o capacete para o chão, despiu a tshirt, abanou-a para de lá sair a p*** que a tinha mordido e seguiu para casa.
A moça entra em casa e o pai está ao telefone. Pai fica sério e pergunta-lhe:
- Ouve lá Unicórnio, que andaste tu a fazer agora no meio da *praça em soutien?!

*praça = sítio público onde jovens com idades compreendidas entre os 65 e os 120 anos, aproveitam o final do dia para colocar a conversa em dia e beber um copito.

- Osga-se! Ainda tenho o ferrão nas costas e tu já sabes?!
- Ferrão?! - Pergunta-lhe o pai.
- Sim, picou-me uma abelha e o meu reflexo foi tirar a tshirt!
- E tiras a blusa num sítio daqueles?
- Querias que fosse quando? Antes de ser picada? Não te preocupes, que pela idade deles não vão ter tempo para contar aos bisnetos.

24
Jul16

Almoçar de novo em família?! Esperem lá que já me apanham...


O Unicórnio

Um ano após o nascimento do nosso chinoca, decidimos que chegara a hora de irmos à capital, degustar um belo repasto ao Belcanto, restaurante do chef Avillez, local afamado e aclamado cá no portugalito e, aussi, em terras da estranja.
A ocasião pedia um oufit formal e aproveitei o mote para quebrar a rotina semanal, indo de fato de treino de neoprene, cabelo apanhado com mola no cocuruto e para completar o look, sapatinho alto compensado na biqueira, com tiras de strass prateado, sempre bonito. Filipe vestiu calção laranja da SportZone, meia branca com a bela da sandaloca por cima, que é escolha sempre trendy e casual chic. Francisco, luz dos nossos olhos e da nossa vida, levou o cabelo penteadinho para o lado (anda sempre com ele espetado), ora pois que a ocasião, pedia algum decoro.

Francisco, coisa mais rica de sua mãe e de seu pai, é criança alegre, dada, sociável e que gosta de abraçar, de mudar de colo, de transmitir simpatia. É um menino espevitado e falador, e expressa-se... gritando e cantando. Valha-me Deus como ele grita! A sua voz límpida e possante, entra ouvidos adentro e lá fica aprisionada horas intermináveis.
Eu e o pai, sabemos que quando está mais excitado ou ansioso, ele grita, e por isso, quando estamos num sítio público onde hajam demasiado estímulos, tentamos transmitir-lhe alguma serenidade e paz e entramos em modo zen, falando baixinho e calmamente. Foi o que fizemos no restaurante apinhado de gente, barulho e luzes e que nos valeu uma grande porra!

Durante o início do almoço, manteve-se caladinho,comendo umas migalhinhas de pão, e distraído a olhar para um fulano que tinha uma narigana que ia daqui até Braga (o Júlio Isidro). O pior, foi quando se acabou o pão, e lembrou-se de abrir a goela, espraiando todo o seu contentamento por estar ali, em local tão chic e composto. Senhoras e senhores, ele gritava e ria ao mesmo tempo, e aquela gente séria de dedo mindinho espetado e de biquinho feito para a selfie, olhava-nos de lado.
Juro que não me lembro o que comi e ao que me soube o repasto, tal os nervos que me consumiam. Sei que foram camarões, isso sei que foram, pois andámos a poupar um ano inteiro para ir almoçar fora e gente fina que é gente fina, vai almoçar camarão!
O mêrapaz, sempre mais calmo que eu, nem café bebeu como de costume e pagou a conta telepaticamente, pois nem dei por ele a tirar a carteira do bolso.
O mais "piqueno", ria, gritava, esbracejava, enquanto os empregados de mesa fingiam que lhe achavam muita piada e se metiam com ele.
Almoçámos em menos de meia hora e levantámo-nos num ápice, pegando no carrinho, onde Francisco continuava a sua jornada a rir, a espernear e a gritar a música :"Ah, ah, ah minha machadinha".
Coisinha mais rica de sua mãe e de seu pai.

*Obviamente que isto não se passou no Avillez, foi só o meu lado snob a fervilhar.

20
Jul16

Não vou ser gorda para sempre.


O Unicórnio

unicorn1.jpg

 

 

“Temos que aceitar o nosso corpo como ele é, mesmo que não seja o corpo que idealizamos e gostamos.”

“Não somos o nosso exterior, somos o interior.”

“O corpo é só o pacote, o que interessa é o que está lá dentro.”

 

E rebéubéubéu e por aí adiante. Estes dizeres são todos muito bonitos e fofinhos, mas para mim não servem, são só desculpas. Reafirmo: para MIM não servem.

Desde que engravidei do pequeno chinoca que cresci abundantemente para todos os lados. Cresci imensamente, fiquei uma pipa, uma pequena foca, uma baleiazita, um pinguim, um texugo, um barrote, uma coisa redonda. Para além de ter sofrido de uma fome desgraçada (ai, que fome, meu senhores!), deixei de fumar (o que mais fome dá) e descobri que tinha hipotiroidismo . Resumindo: o cocktail perfeito para justificar mais de duas dezenas de quilos ganhos. Nascido o Francisco, metade foi à vida de imediato.

 

“Vais ver que ao dares mama, vais perder esses quilos num instante.”

“Amamentar é a melhor forma de emagrecer”.

 

MENTIRA! No meu caso, dar mama (o que ainda acontece), dá-me uma fome desmesurada, surreal, fico voraz, um alarve, desesperada, esganada. Ou seja, perdi uns e vieram outros. Nos primeiros seis meses do Francisco, cada vez que ele mamava eu comia um bife acompanhado de três bifes.

Caríssimas senhoras que ficaram magras ao dar mama: parabéns, espero que sejam felizes e magras para sempre e que Nossa Senhora vos acompanhe.

 

“O corpo leva nove meses a ir ao sítio”.

“Nove meses a engordar, nove meses para emagrecer”.

A isto, eu comento assim: ahahahahaha!

 

“Não importa se ficaste gorda, o que importa é o bebé que tens.”

“Olha para o teu filho e vais ver que os quilos a mais não importam”.

Certo. Tenho o bebé mais lindo, simpático, alegre, saudável, maravilhoso do mundo que amo acima de qualquer pessoa, de qualquer coisa, mas isso não pode ser desculpa para continuar gorda, lamento. Esse foi o mantra que em silêncio repeti, e  até agora não tem resultado. Não me sinto bem comigo, nada me serve e tenho vontade de esganar as mães magras que por mim passam e assumo, sem probleminha nenhum, que morro de inveja de quem tem o corpinho que eu tinha (não era nenhuma estampa, mas era jeitosinho).

 

Este clic! deu-se quando ontem cheguei à praia e não consegui despir-me. Comecei a olhar em volta e a observar outras mães que tal como eu, não estavam na sua melhor forma, mas estavam em biquinis e muito descontraídas. Fiz o mesmo e despi-me, mas sempre preocupada em respirar devagarinho, para não dilatar a barriga. Cheguei ao final do dia com arritmias só por ter esforçado a barriga a meter-se para dentro.

Odiei o meu corpo. Detestei-o. Só tinha vontade de afogar o cabrão, mas como não consigo faze-lo e sobreviver a isso, tive que me resignar a estar deitada na areia e a ser confundida com um vidrão.

O que vale, é que na praia há sempre quem seja mais gorda que nós e isso estimula a que percamos a vergonha, pois pensamos na nossa velhaquice: - Ena, aquela gordalhufa que está ali! Se ela pode estar em biquini, eu também posso!

A merda, é quando nós próprias somos “aquela gordalhufa que ali está”, e somos  o estímulo para que outras se dispam. Um terror.

 

A questão aqui é que preciso de emagrecer e de voltar a ficar como me sinto bem e isso é o mais importante. Não me venham com merdices de que “tenho que aceitar”, ou “isso agora não interessa nada”, ou o “és linda na mesma, coisinha sexy”, que tenho que fechar a boca de vez. Obviamente que não vou passar fome, pois adoro amamentar o meu Francisco e quero que ele continue a ser sofrego pelas minhas mamas, mas vou ter que ser determinada (até porque sempre o fui) e decididamente, alterar os meus hábitos alimentares e voltar a ser feliz com o meu corpo. Isso sim, é o mais importante. Mas não pensem que me vou render à alimentação da moda à base de alpista, alfarroba, milho desfeito e coisas parecidas todas enfiadas num fraco, acompanhadas por folhas de beldroegas e urtigas frescas! Nada disso, até porque sou pessoa que gosta de comer e pessoa que gosta de comer coisas boas, coisitas saborosas e típicas.

Não quero dizer com este texto (não vá surgir por aqui alguma representante do sindicado das mães anafadas) que tenhamos que ser todas magras depois de ter um filho. Fait attention! Não é isso. O que eu quero dizer, é que não sou feliz com o meu corpo inchado que nem um carro blindado e por isso, vou emagrecer e ser ainda mais feliz. É só. Vou mesmo. Mi aguardem! Ah! Vou começar segunda feira, até porque estou de férias e ainda tenho que mamar uma bola de berlim que são mesmo, mesmo, mesmo boas.

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2016
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2015
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D