Estou em lágrimas desde manhã cedo. Em lágrimas.
O Unicórnio
Esta noite dormi mal, aliás, mal dormi. Para além de me levantar três vezes para atender às necessidades da cria, passei a madrugada de pé, a vaguear pela casa, tal fantasma perdido na estratosfera.
Do quarto para a sala, da sala para a cozinha, toda a noite carpi a minha dor, essa dor lancinante e profunda que me dilacerava as entranhas, através de espasmos sincopados. A dor na alma era tanta, mas tanta, que cheguei a babar um fio de espuma queixo abaixo. Uma dor insuportável, uma sensação de impotência atroz.
Quando amanheceu, toda eu era uma mulher sofrida e desgostosa, de olhar perdido no horizonte e juro até, que para juntar mais melancolia a este texto, penso ter ouvido uma música do Michael Bolton a tocar lá ao longe, quase a ir-se, lá ao longe, e eu à janela de lágrima a cair em câmara lenta.
O mêrapaz, ouvindo as minhas lágrimas, acordou:
- Porque chorais minha bela e formosa esposa? Porque chorais, dizei-me! Vosso rosto outrora vivalhaço e esperto, agora está pálido e desenxabido. Que dor é essa, pituxa?.
Respondi-lhe trémula e frágil de tão magra (ahahahaha, piada claro);
- Toda a noite pensei na despedida dele e toda eu sofro.
Mêrapaz sentou-se na cama de semblante sério e preocupado.
- Que dizeis? Na despedida?! De quem!?
- Dele, do Tonhito.
- De quem, minha bela, formosa, inteligente e fantástica esposa?!
- Opá, caraças Filipe! Do Cavaco! Toda eu estou para morrer de tristeza.
Obviamente que é mentira, não estou. Não estou triste coisa nenhuma, até tenho um recado para o senhor; adeus, ó vai-te embora que só fizeste cocó!!!