O antigamente e o hoje. Um pensamento quase sério.
O Unicórnio
Depois de ter lavado a alface com Amukina (uma das inúmeras recomendações do médico, por não ser imune à toxoplasmose), surgiram-me histórias que me fizeram pensar no quão somos umas grávidas privilegiadas.
Minha avó contava-me que na nossa aldeia, muitas mulheres trabalhavam de sol a sol no campo até ao parto e algumas delas até, davam à luz no meio dos milherais. As outras camponesas ajudavam-nas e as parturientes, viviam o momento sem assistência médica. Hoje, impensável imaginar uma mulher grávida de rabo espetado ao sol a apanhar tomate e a dar à luz no meio do campo. Isso actualmente só acontece nos filmes e as ditas têm como enfermeiras fadas e elfos.
Meu pai era minúsculo quando nasceu. Tão pequeno que nem sabiam se sobreveviria. Minha avó, colocou-o no que havia como berço; uma caixa de sapatos. Contrariamente ao que se esperava sobreviveu e tornou-se rijo que nem tronco centenário de um carvalho frondoso e verdejante (olhem só a quantidade de adjectivos que eu sei).
Hoje, compramos o melhor carrinho, o melhor ovo, espreguiçadeira, berço e afins.
Minha avó tinha searas de melão e levava os filhos pequenos com ela. Sentava-os numa saca ou então no chão e os pequenos, lá ficavam uma tarde inteira. Nenhum deles morreu, nenhum deles ficou numa ama, nenhum deles andou de bibe.
Hoje, desinfectamos a cada três vezes ao dia o chão, as crianças quase que andam às costas dos pais para não estarem em contacto com o solo, andam de bibe, não vá cair uma nódoa no pólo da Lacoste.
Bem, deixa-me lá ir comer a alface. Pizza. Alface com atum. Pizza. Alface com atum e ovo cozido. Pizza. Alface com arroz, atum, ovo cozido. Pizza. XÔ alma do diabo, xô!