O meu filho não vai para o quarto dele tão cedo. O meu é bem melhor!
O Unicórnio
Como é que eu vou deixar este chinoca de cabelo espetado dormir sozinho?!
Não me parece.
O Francisco tem quase oito meses e o pai quer que ele ele deixe o nosso quarto, e vá para aquele que lhe pertence. Aquele quartinho em tons de cinza e branco que decorei e aprimorei com tanto amor e carinho.
Não me parece. Não quero. Oponho-me. Oponho-me veemente. Recuso-me a tal feito. Barafusto, digo que não, que é cedo. O pai diz que sim, que ele já tem idade para ficar sozinho toda a noite sem mim. Arranjo todas as desculpas para adiar a coisa:
Está frio;
Está calor;
Está escuro;
Está claro;
Está a nevar;
... e mais não sei quantas desculpas, mas, o mêrapaz não vai nisso. Diz que tem que ser. Respondo-lhe que se tal acontecer, dá-me um fanico. Entorno o caldo. Que endoideço e mando-me da ponte. Ele não quer saber e insiste, mas eu não estou preparada para ficar sem a minha migalhinha ali ao lado, a chamar-me de três em três horas durante a madrugada (às vezes menos), e a rabujar logo às sete da manhã. Que vai ser de mim? Como vou sobreviver? Como, meu Deus?
Andei toda a tarde a chorar pelos cantos, a lamuriar, a carpir a minha dor e o mêrapaz, com pena, chamou-me à sala. Esticou a perna, bateu três vezes no joelho e disse-me;
- «Anda cá e senta-te aqui na minha perna». Sentei-me e ele abraçou-me. - «Não fiques triste, tens mais um mês. Em Abril ele vai para o quarto dele, ok? Mas tem que ser Unicórnio malvado, mentaliza-te».
Respondi-lhe que sim, que em Abril o Francisco vai para o quartinho dele. O mêrapaz sabe bem que é mentira, sabe bem que não vou conseguir deixá-lo ser independente assim às primeiras e que vou ficar com ele até aos 18 anos no quarto. No mínimo.