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O Unicórnio

O dia a dia de um Unicórnio. Suas inspirações, aventuras e desaires.

O dia a dia de um Unicórnio. Suas inspirações, aventuras e desaires.

O Unicórnio

03
Abr16

Porque é que as mães falam tanto sobre cocó?!


O Unicórnio

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 Até há nove meses atrás não percebia porque é que as mulheres com filhos adoram falar sobre o cocó dos bebés. Agora entendo-o, sou solidária com o tema, acérrima defensora da diária visualização do dito e sua posterior verbalização para o mundo.

Quando o Francisco nasceu, nos primeiros dias de vida o que lhe saía pelo rabo era uma mistura de baba de alien com geleia real fora de prazo. Preto,  escorregadio, de consistência pegajosa e assustadora. Quando mudei a primeira fralda, soltei um grito agudo e prolongado (aiiiiiii!), pois nunca tinha visto um cocó tão gótico, tão vampírico, parecia um cocó saído dos contos do Edgar Allan Poe. A enfermeira na maternidade logo me descansou, explicando que aquele cócó era o mecónio, as primeiras fezes do bebé. Bem, o que é certo é que nos primeiros meses o Francisco fazia cocó 36 vezes por dia, e eram 36 fraldas que eu analizava, cheirava, visualizava microscopicamente e só depois, lixo!

Aos quatro meses quando o Francisco começou os sólidos e a experimentar diversos pratos, entre outros, feijoada, couves com feijão, entremeada com arroz de feijoca, petingas fritas, açorda de camarão, souflé de bacalhau em cama de espinafres ou até aveludado de espargos com pescada em molho de trufas negras da Patagónia, a coisa começou a complicar-se. Deixou de fazer cocó diariamente. Uma tragédia. De vez em quando tínhamos que recorrer ao bebegel e a coisa dava-se. Quando fazia cocó sozinho eu ficava tão contente que agarrava no Francisco e dançávamos o Kumbaya de frente para o espelho. Logo de seguida, ligava para o mêrapaz a dar a boa nova.  Era assim que se processava a conversa;

Unicórnio - Olha, fez cocó sozinho!

Mêrapaz - De que cor?

Unicórnio - Verde.

Mêrapaz - Claro ou escuro?

Unicórnio - Claro.

Mêrapaz - Mole ou duro?

Unicórnio- Assim assim, come si come sa.

Mêrapaz - Cheirava mal?

Unicórnio - Um horror.

Mêrapaz- Chorou?

Unicórnio – Não, mas fez muita força.

Mêrapaz – Quanta força?

Unicórnio – Tanta como daqui à Austrália.

Mêrapaz -  Ena pá. Isso é muita força.

Unicórnio – Pois é, é muita força.

 

Há pouco tempo não fez cocó durante três dias. Os meus pais, também preocupados, ligavam-me de manhã e à noite para saber se havia fumo branco.

 Avós – Então filha, novidades?

Unicórnio – Nenhumas.

Avós – Ainda não fez cocó?

Unicórnio – Ainda não.

Avós – Coitadinho, deve doer-lhe a barriga.

Unicórnio – Não se queixou, mas hoje tenho que recorrer ao estímulo rectal.

Avós – Ai, coitadinho.

Unicórnio – Tem que ser.

Avós – Mas se não faz há três dias deve ter cólicas daqui até à Austrália!

Unicórnio – Daqui até à Austrália não que é longe, mas se não fizer cocó até amanhã,  terá dores daqui até ao Reguengo do Alviela.

 

Nessa noite e depois de uma fralda cheia de substância e sem recurso a bebegel, liguei aos meus pais a comunicar a boa nova. Do outro lado, ouvi um enorme estrondo seguido de gritos histéricos. Para comemorar o feito, abriram uma garrafa de Moet & Chandon, soltaram o fogo de artíficio, e puseram no gira discos o single do Andrea Bocelli , “Hallelujah”.

 

Quando vou para o social, beber um café ou simplesmente fazer uma caminhada com uma amiga, a conversa principal e sempre mais importante é sobre o cocó do Francisco.  

 Amiga – Então Unicórnio, como estão?

Unicórnio –O Francisco fez um enorme cocó esta manhã.

Amiga – Combinei contigo este café porque tenho algo para te contar. Vou emigrar para a Suiça. Fui despedida.

Unicórnio – Se tu visses! Era enorme, caraças. E – NOR – ME!

Amiga - ... estou sem trabalho e preciso de pagar a renda.

Unicórnio – Verde e denso, foi da sopa de brócolos, só pode. Ele adora brócolos.

Amiga – Parto esta madrugada, estarei sem vir a Portugal um ano.

Unicórnio – Vê lá tu que não fazia cocó há dois dias! Mas hoje fez cocó, um grande e bonito cocó!

Amiga – Ando também com uma dor nos rins e fiz uma ecografia e o diagnóstico não é bom ...

Unicórnio – Até tirei uma fotografia e tudo, olha aqui! Encaracolava nas pontas e tinha duas cores, não é giro?

 A importância do cocó é inegável. Se for um cocó saudável, é porque o bebé está saudável e para uma mãe, não há nada mais importante e prioritário do que isso. Pode parecer estranho esta atenção quase obsessiva das mães pelo cocó dos filhos, mas minhas pessoas, ele é mais importante do possam pensar.

Falando nisso, vou vestir uns dos fatos de astronauta da Área 51 e mudar a fralda ao Francisco. Ontem pela primeira vez comeu couve. Não são precisos pormenores. 

 

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